
O palmito pupunha é o protagonista da mais recente conquista do agronegócio paulista, elevando para nove o número de Indicações Geográficas (IG) do setor no estado. A região do Vale do Ribeira, responsável por 80% do cultivo nacional, garantiu o reconhecimento oficial que atesta a procedência e a qualidade única do produto local.
Com este registro, São Paulo [1] totaliza 12 IGS, fortalecendo a identidade territorial de seus produtos. O selo abrange uma área composta por 22 municípios e valida o esforço histórico da Associação dos Produtores de Pupunha do Vale do Ribeira (Apuvale [2]), entidade que representa 70 agroindústrias e cerca de 1.800 famílias dedicadas ao campo.
Esta certificação não é apenas um título burocrático. Ela reposiciona o palmito pupunha produzido na região como uma referência global de manejo sustentável e qualidade gastronômica.
Impacto econômico e sustentabilidade
Para Claudio de Andrade e Silva, diretor de marketing da Apuvale, a certificação é um divisor de águas. Ele destaca que esta é a única indicação de procedência para palmito no mundo, ratificando um trabalho de longo prazo.
"Antes, predominava o extrativismo predatório da palmeira juçara; hoje, há manejo agrícola de uma espécie promissora, a pupunheira", afirma Claudio.
A exploração ilegal da juçara, nativa da Mata Atlântica, ainda ameaça o ecossistema. Contudo, a migração das fábricas e produtores para o palmito pupunha criou uma barreira econômica contra o desmatamento, unindo preservação ambiental e viabilidade financeira.
O selo contempla tanto o produto in natura quanto o processado. Isso permite a comercialização certificada em diversos formatos, desde que sigam a legislação específica:
Tolete e rodelas;
Estirpe e picado;
Bandas;
Espaguete de palmito.
Histórias de vida transformadas pelo campo
A confiança trazida pela IG impulsiona novos empreendedores. Jefferson Souza, de 43 anos, trocou a vida na capital paulista pela produção rural em Jacupiranga após a pandemia de Covid-19. Buscando qualidade de vida para o filho e fugindo da rotina de apartamento, ele encontrou no palmito pupunha uma oportunidade de negócio.
Instalado no bairro da Poça, uma comunidade quilombola, Jefferson criou o empreendimento "Simplesmente Roça". Sua produção foca no mercado in natura, atendendo a uma demanda crescente por alimentos saudáveis.
A versatilidade do ingrediente surpreende consumidores. Segundo o produtor, o palmito pupunha vai muito além da salada tradicional, servindo como base para lasanhas e risotos, oferecendo fibras e minerais com baixo teor de carboidratos.
Condições ideais no Vale do Ribeira
São Paulo se tornou referência na cadeia produtiva graças às condições geográficas privilegiadas do Vale do Ribeira. A região concentra 7 mil hectares de cultivo, favorecida pelo clima e relevo.
Rogério Sakai, engenheiro agrônomo da CATI (Secretaria de Agricultura e Abastecimento), explica que o cultivo do palmito pupunha ocorre majoritariamente em terras altas e levemente onduladas. A distribuição regular de chuvas elimina a necessidade de irrigação artificial, reduzindo custos para os pequenos e médios produtores que dominam o setor.
Pesquisa e inovação genética
O sucesso atual é fruto de décadas de ciência aplicada. As primeiras sementes chegaram ao estado em 1940 pelo Instituto Agronômico (IAC). Nos anos 1980, estudos identificaram o Vale do Ribeira como o terroir ideal devido ao clima tropical úmido.
Hoje, o IAC mantém um programa robusto de melhoramento genético focado na produtividade do palmito pupunha. Valéria A. Modolo, pesquisadora do instituto, ressalta que a coleção de palmeiras possui mais de 400 espécies em estudo. O objetivo é desenvolver variedades que ofereçam sabores, cores e texturas diferenciados, agregando ainda mais valor ao palmito pupunha.
[1] https://abcdoabc.com.br/noticias/sao-paulo/
[2] https://apuvale.com.br/about/