
Enquanto a Prefeitura de São Paulo amplia em 26% o orçamento destinado à Segurança Pública para 2026, o Governo do Estado projeta um crescimento de apenas 3,6% na área e ainda reduz recursos voltados ao combate ao crime organizado. Dentro desse cenário, a Polícia Civil permanece com a menor fatia dos investimentos, o que, segundo a categoria, aprofunda o processo de sucateamento da instituição.
A gestão do prefeito Ricardo Nunes [1] (MDB) estima um orçamento total de R$ 137,4 bilhões para 2026 e destinou R$ 1,83 bilhão à Secretaria Municipal de Segurança Urbana — aumento significativo em relação aos R$ 1,45 bilhão previstos para 2025. O reforço financeiro deve ser aplicado, entre outras ações, na expansão do programa Smart Sampa e no fortalecimento da Guarda Civil Municipal (GCM).
Já o Governo do Estado, comandado por Tarcísio de Freitas (Republicanos), projeta um orçamento global de R$ 382,3 bilhões para 2026, dos quais R$ 21 bilhões serão destinados à Secretaria de Segurança Pública. O valor representa um acréscimo nominal de R$ 735 milhões em relação a 2025, equivalente a 3,6%.
Desse montante, a Polícia Civil receberá R$ 6,7 bilhões — apenas R$ 200 milhões a mais do que no ano anterior, um crescimento de 2,9%. A Polícia Militar, por sua vez, contará com R$ 12,7 bilhões, aumento de 4%. Na avaliação do Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (Sindpesp), a diferença reforça a desigualdade na distribuição de recursos entre as forças de segurança.
Segundo a entidade, ao considerar a inflação do período e as despesas fixas, o reajuste destinado à Polícia Civil representa, na prática, perda de capacidade operacional, afetando diretamente a investigação de crimes e o atendimento à população.
Polícia perde recursos para formação e combate ao crime organizado
Divulgação
Além do reajuste considerado insuficiente, o governo estadual promoveu cortes expressivos em áreas estratégicas. O orçamento do programa de seleção, formação e aperfeiçoamento de policiais civis sofreu redução de 42,8%, passando de R$ 984,8 milhões em 2025 para R$ 562,4 milhões em 2026.
Também houve diminuição superior a 50% nos recursos destinados especificamente ao combate ao crime organizado. As verbas caíram de R$ 666,4 milhões para R$ 325,8 milhões, o que, segundo o Sindpesp, compromete ações de inteligência, a elucidação de crimes complexos e o enfrentamento de facções criminosas.
A presidente do sindicato, delegada Jacqueline Valadares, afirma que o cenário revela um contraste preocupante entre os investimentos feitos pela capital e pelo Estado. Para ela, a Polícia Civil segue sendo preterida, apesar de exercer papel central na investigação criminal.
“Chama a atenção o percentual reduzido destinado à Segurança Pública no Estado em comparação ao que a capital paulista reservou para a área. Mais uma vez, a Polícia Civil é deixada em segundo plano, o que sinaliza a continuidade de uma política de sucateamento da instituição. Segurança Pública é dever constitucional do Estado, mas, diante da falta de investimento, são as prefeituras que acabam fortalecendo suas Guardas Civis”, afirma.
Outro ponto de crítica é a valorização profissional. Segundo o sindicato, a Polícia Civil aguarda há três anos o cumprimento da promessa feita por Tarcísio de Freitas, ainda como candidato ao governo, de elevar os salários da categoria a um dos melhores do país. Atualmente, São Paulo ocupa a 24ª posição no ranking salarial entre os 27 estados, apesar de ter o maior PIB do Brasil e o segundo maior orçamento público, atrás apenas da União.
A entidade também aponta problemas estruturais, como plano de carreira defasado, falta de progressão funcional, ausência de pagamento de direitos como hora extra, adicional noturno e auxílio-saúde, além de um déficit superior a 14 mil policiais civis. Soma-se a isso o atraso na elaboração da Lei Orgânica da instituição.
Para o Sindpesp [2], sem uma mudança de política orçamentária e de valorização profissional, a Polícia Civil seguirá enfrentando dificuldades para cumprir seu papel constitucional no enfrentamento ao crime e na proteção da sociedade paulista.
[1] https://abcdoabc.com.br/gestao-ricardo-nunes-sp-aprovacao-64/
[2] https://sindpesp.org.br/