
A greve dos Correios [1]segue sem data para acabar e já provoca impactos significativos nas entregas de encomendas em todo o Brasil. Em plena temporada de compras de fim de ano, consumidores e pequenos empresários relatam atrasos prolongados, dificuldades para obter informações e prejuízos financeiros causados pela paralisação parcial dos serviços da estatal.
Atualmente, segundo informações oficiais, 13 estados, principalmente das regiões Norte e Nordeste, operam normalmente. Já em 17 estados, entre eles São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul, os Correios enfrentam paralisações desde o dia 16 deste mês, em razão do impasse nas negociações do acordo coletivo de trabalho.
Correios enfrentam impasse trabalhista no TST
A paralisação [2]tem origem em um conflito entre a direção dos Correios e os sindicatos que representam a categoria. As negociações salariais se arrastam há mais de cinco meses e ainda não chegaram a um consenso no Tribunal Superior do Trabalho (TST).
Uma audiência de conciliação foi realizada nesta segunda-feira (29), e o julgamento do dissídio coletivo está previsto para esta terça-feira (30). Paralelamente, sindicatos regionais, como o Sentect-SP, convocaram assembleias para definir os próximos passos do movimento.
Entre os pontos em debate está a proposta de eliminar, a partir de agosto de 2026, o chamado ponto por exceção, mecanismo que hoje garante pagamento adicional de horas extras sem necessidade de compensação. A empresa argumenta que a prática prejudica a produtividade e dificulta o controle operacional dos Correios.
Atrasos nos Correios geram prejuízos a consumidores e empresas
Joédson Alves/Agência Brasil
O cenário tem causado transtornos para milhares de usuários. Há relatos de encomendas que permanecem “em transferência” por semanas no sistema dos Correios, inviabilizando devoluções e reembolsos.
Um consumidor informou que enviou um produto de São Paulo para o Rio de Janeiro no dia 1º de dezembro, mas, até 29 de dezembro, o objeto ainda não havia sido entregue. A situação é ainda mais crítica para quem contratou serviços expressos, como o Sedex, e não recebeu a encomenda no prazo prometido pelos Correios.
Pequenos negócios sofrem com falhas nas entregas dos Correios
Fernando Frazão/Agência Brasil
A microempreendedora Edna Souza, dona da marca Elegância a Fio, relata perdas financeiras e risco jurídico devido aos atrasos dos Correios. Ela produz peças personalizadas e recebeu encomendas específicas para as festas de fim de ano.
“Tenho pedidos parados desde o dia 18. Alguns clientes já pediram reembolso de produtos feitos sob medida para viagens”, afirmou Edna. Segundo ela, além do prejuízo direto, há ameaças de ações judiciais. “É uma pequena confecção; esse tipo de perda pode ser devastador”, disse.
Outro problema apontado é a falta de informações detalhadas no sistema dos Correios, que muitas vezes indica apenas que a encomenda está parada em um centro de distribuição, sem permitir retirada presencial.
Reclamações contra os Correios crescem
No site Reclame Aqui, a reputação dos Correios apresentou queda acentuada. A classificação passou de “boa”, no ano passado, para “não recomendada” em outubro e “ruim” em novembro. Nos últimos seis meses, foram registradas 46,9 mil reclamações, somando 105,7 mil ao longo do ano, com índice de solução de 67%.
Em agências do interior paulista, usuários relatam sobrecarga de trabalho. Na região de Piracicaba, por exemplo, apenas dois carteiros estariam realizando entregas ativas em uma unidade com sete funcionários.
Correios dizem operar em regime de contingência
Joédson Alves/Agência Brasil
Em nota, os Correios informaram que as agências seguem abertas e que as entregas estão sendo realizadas em regime de contingência. A empresa afirma que cerca de 90% dos trabalhadores permanecem em atividade, apesar da greve.
A estatal também declarou estar adotando medidas como remanejamento de funcionários e mutirões em feriados e fins de semana. Segundo a companhia, a taxa de entrega pontual em dezembro foi de aproximadamente 89%, mesmo com a paralisação em parte do país.
Enquanto o impasse não é resolvido no TST, a expectativa é de que os Correios continuem operando com limitações, prolongando os efeitos da greve sobre consumidores e empresas em todo o Brasil.
[1] https://www.correios.com.br/
[2] https://abcdoabc.com.br/trabalhadores-correios-avaliam-greve-nacional/