Crítica – Superman (2025)

Crítica – Superman (2025)
Crítica – Superman (2025) O que todos as tentativas fracassadas de se construir o próximo alter ego de Clark Kent, tiveram em comum? Essa é fácil, nenhum deles conseguiu ser o Christopher Reeve [1]. Então, de lá pra cá, houve até quem tivesse tentado sem sucesso emular o icônico filho de Jor-El do filme de Richard Donner, como o diretor Bryan Singer em “Superman Returns” (2006), ou mesmo Zack Snyder com o seu “O Homem de Aço” (2013), o que só provou o tamanho da lacuna deixada por Reeve. Dessa forma, por muitos anos o que parecia ser uma benção, foi na verdade uma maldição nas inúmeras tentativas de se contar a história do homem de aço. A missão era árdua, e dentre os principais desafios, além de honrar o insuperável clássico dos anos 70, havia algo que todos os diretores e roteiristas tinham em comum: tornar possível um filme a altura do maior de todos os heróis —, coube ao tempo mostrar que eram eles seus maiores rivais, ao menos até agora. Pois bem, sim, James Gun conseguiu, após o anúncio há dois anos, estreia nesta semana no Brasil e no mundo, o tão aguardado Superman (2025) [2]. E garanto, ao final do filme você também vai olhar pra cima, pois finalmente foi possível contemplar uma adaptação mais fiel aos quadrinhos. Porém, antes mesmo de se começar a falar sobre Superman (2025) [3], aqui cabe um pouco de enquadramento ao cenário em forma de aviso. Se, o fato de ser um filme muito colorido, com naves e heróis voando pela cidade, monstros financiados por bilionários malucos e explicações esdruxulas para acontecimentos intergalácticos, te causa incomodo, acredite: esse filme não é pra você. É recomendável que você pare este texto agora, ainda dá tempo. Dito isso, cabe agora a você decidir por si mesmo, se ainda assim aceita que nos precisamos de um novo filme de herói ou não. Dito isso, voltemos a programação normal. O Voo de James Gunn A espera foi grande, mas não menor que as expectativas em torno do ambicioso projeto do responsável pela trilogia de sucesso Guardiões da Galáxia, o diretor James Gunn [4], agora na DC Comics que enfim teve a sua vez de colocar nas telonas o herói mais famoso do mundo. Então chegou o dia de saber o que há lá no céu. E não, nem avião, nem pássaro, mas sim algo mais rápido que uma locomotiva e muito além de um entretenimento pra criança, por detrás do colorido imagético de uma trama “boba” como pano de fundo, Superman é também um filme atual e politizado, e isso é uma ótima notícia! A proposta inicial do recomeço do novo DC Studios em seu primeiro capítulo 1, chamado “Deuses e Monstros”, que pra se conectar filmes, séries, animações até games, tudo sob a tutela do co-CEO da DC Studios, James Gun. E isso com direito a benção de John Willians, responsável pela icônica trilha do herói. Dessa forma, o diretor conseguiu trazer de volta uma versão repaginada na marca registrada daquele que é o principal tema do Superman de 1978. Com diversos trechos do tema clássico, John Murphy e David Fleming que conseguiram emularam uma presença quase espiritual de Willians em diversos momentos da trama. O roteiro se baseia no arco dos quadrinhos chamado All-Star Superman, e tomadas as devidas liberdades criativas, assume que Clark Kent/Superman e Lois Lane, estão há pouco em um relacionamento, em um contexto em que ela já conhece a identidade secreta do herói. Assim, o homem de aço se vê mergulhado em uma jornada de autoconhecimento, ao mesmo tempo em que tenta se entender como parte de seus antepassados em Krypton e sua família adotiva, na terra. No hall de escolhas de elenco, se por um lado, a troca de atores gera o prestígio de interpretar o filho de Krypton, por outro, a mudança é quase sempre cercada de muitos olhares de lupa. Dessa forma, pode-se dizer que, não houve “passagem de bastão/capa”, para David Corenswet, visto que o ator não assumiu o posto de Henry Cavill, ele recomeçou um universo totalmente novo. E de cara já se pode afirmar que, Corenswet nos faz esquecer de Cavill em 15 minutos de tela, sobretudo por conseguir tornar-se bem mais que um amálgama de todos os acertos de seus antecessores — mas ao dar vida ao herói mais popular do mundo, aqui bem enquadrado no nosso mundo atual, sem lhe faltar humanidade e crença nas pessoas —, em uma interpretação que parece não ter sentido o peso da capa em seus ombros. A escolha do ator de pouco conhecido do público geral, parece ter sido acertada, visto que anos antes de ser escalado, já havia revelado a vontade de interpretar o herói de maneira “mais brilhante e otimista” que a visão soturna de Zack Snyder. Dentre as mais gratas surpresas, além da química apontada pelo diretor no casal, esta Lois Lane (Rachel Brosnahan), incrível, diga-se de passagem, é a única, que de fato deu uma surra no homem de aço, o trailer da um uma boa amostra. Com destaques para o pai biológico do Kal-El (Superman), na pele do ator Bradley Cooper, interpretando um papel que já foi do grande Marlon Brando como Jor-El. Por fim, o mais conhecido pelo público, sobretudo os fãs da segunda geração de X-Men da antiga Fox/Marvel, encarnava o “Fera”, então já acostumado aos filmes de herói, tanto que chegou a fazer o teste para viver o Superman, mas James Gunn enxergou no ator Nicholas Hoult, o seu novo Lex Luthor, que traz a essência mais próxima do vilão que inveja o herói e traz novas camadas ao personagem.  Como elenco de apoio, quem rouba cena e dá o tom do filme logo no início, é sem dúvidas o adorável cãozinho do Superman, no final revelando uma boa surpresa. E o personagem Guy Gardne, o segundo Lanterna Verde, exala carisma escrachado interpretado pelo ator Nathan Fillion com um cabelinho maravilhosamente ridículo. Do núcleo jornalístico, o ator Skuyler Gisondo, é sem dúvidas, o melhor Jimmy Olsen até agora, na equipe de Perry White, vivido por Wendell Pierce, ao encarnar o chefe do Planeta Diário. Gunn ainda optou por trazer de volta a personagem que orginalmente não existia, como forma de homenagem a criação de Richard Donner, no clássico setentista. Trata-se da senhorita (Eve) Teschmacher, que na trama era namorada e assistente de Lex Luthor, e aqui tem um papel vital na trama, está ótima e honra a personagem clássica, na pele da modelo e atriz portuguesa Sara Sampaio. E dentre as diversas homenagens, Gunn trouxe para uma pequena ponta de repórter de televisão, que aparece rapidamente, trata-se de Will Reeve, filho do eterno Christopher Reeve. Por fim, uma aparição surpresa e de última hora, a de Kara Zor-El, ninguém menos que a prima do filho de Krypton e alter ego da Supergirl, aqui interpretada pelo carisma de Milly Alcock (da série derivada de Games of Thrones da HBO, House of the Dragon). Talvez o grande êxito de James Gunn pode nessa nova empreitada, pode estar no fato de ter conseguido fazer o um filme do Superman “sair do armário” (dos filmes do gênero), e escolher contar o que realmente gostaria de dizer. Ainda que possa pecar em equalizar o equilíbrio certo entre públicos, quadrinhos/nerds —,mesmo com uma parcela grande que vai ao cinema sem nichos, dito público médio — não dar a mínima com o que diz nas revistas em quadrinhos, ele resolveu se arriscar em suas convicções. Deste modo, o trabalho de James Gun se firma como um longa de herói sem medo de ser feliz. Isso, significa dizer que o longa finalmente se assumiu como um filme de heróis, sem ter vergonha de julgamentos por falar também com o público-alvo, as crianças. Após o fracasso da DC com seus heróis semideuses, de fotografias escuras e cinzentas no alto de altar de Olimpo – aqui, James Gunn tratou demostrar o lado cálido de falhas e acertos em seus personagens, sobretudo ao entregar empatia e humanidade sem “receios de kryptonita”. Assim, tal como o seu Clark Kent que aqui finalmente funciona após o trabalho de Christopher Reeve, o diretor Gunn abraçou de maneira cálida o público, acertando precisamente a missão de construir a pedra fundamental de toda a lore do universo DC, além de introduzir ao público cada personagem dessa mística, só poderia começar pelo maior de todos, o Superman. Existem sim, alguns deslizes narrativos quando a trama apresenta diversos plots simultâneos, o que poderia ter sido mais simplificado, o que pode causar confusão com excesso de informações. Além é claro, do problema que assola a grande parte dos longas de heróis: a insistente necessidade (quase preguiçosa), de usar ameaças repetidas de um tal “grandioso perigo eminente”. As tramas são quase sempre algo gigante centrado, seja em um monstro de proporções bíblicas, ou mesmo na possibilidade de vermos (uma vez mais), o planeta, correndo riscos de explodir ou acabar, o que cai entre nós, já cansou, né?! Contudo, nada que comprometa severamente, o filme, visto que Gunn parece até brincar com alguns destes clichês de grandes criaturas. De qualquer maneira, invariavelmente, menos quase sempre é mais. Deste modo, sem muitos spoilers, o novo filme de James Gun, voa alto sem receios de ser o que é, um filme de herói. E que herói! O homem de aço do diretor James Gun passeia por nuvens de uma gentileza quase ingênua ao flutuar por camadas que apenas o filme de Richard Donner havia conseguido até então. E mesmo assim, como lindamente mencionado em um dos diálogos mais sublimes do longa, é dito que ele não precisa necessariamente ser o mais forte ou poderoso para ser quem é. Assim diz o texto de James Gun, delicadamente mostra pai e filho, ambos sentados na entrada da casa dos Kent, em seu ápice emocional: — Aquilo que te faz humano [não é a origem de onde você nasceu, isso sequer importa, mas o que te faz parte da humanidade] é exatamente quem você decide ser — afirma o pai adotivo de Clark. O recado traz o mais que perfeito timing (exato) de um contexto sociopolítico tão atual e necessário de ser dito. Ainda mais em um cenário onde os Estados Unidos, país com a maior população imigrante do planeta, quase 20% de toda a nação, ou seja, falamos de mais de 50 milhões de pessoas daquele que deveria se chamar pela etimologia que faz referência a uma certa “união de estados”, anteriormente habitados por povos indígenas, e que na prática tem efeito justamente contrário. Assim, estas comunidades têm sido tratadas com repressão e desconfiança, sobretudo pelas políticas xenofóbicas do governo do presidente americano, Donald Trump. Nessa trama (quase fictícia), descobrimos um bilionário que influência o governo ao criar um conflito de guerra como pretexto para real de seus próprios interesses, aqui acabar com a dita “ameaça” (o Superman). Quando a ficção está próxima demais da realidade, causa até uma certa estranheza, ao nos deparamos com a reflexão de Aldous Huxley, aliada ao questionamento de que a ficção deve ou não fazer sentido? Na frase do escritor da obra “1984”, Huxley suscita que “a ficção precisa fazer sentido, mas que a realidade não [tem o mesmo compromisso]”. Em livre entendimento, o pensamento pode ajudar a remontar alguns pontos, neste, de que por muito tempo o cinema (de herói) tem se discutido, acima de tudo, sobre de que maneira esse gênero deveria ser realizado e para qual público específico. Por alguns anos, a audiência acabou virando refém de uma demanda criada por aquilo que acreditava ser o caminho certo para este tipo de entretenimento, gerando debates e controvérsias como a crítica do diretor Martin Scorsese de que o gênero não seria cinema. Para uma parcela do público, parece que vinha funcionando, mas não por muito tempo. Houve um momento que os filmes de heróis da DC Comics, mais pareciam obras do expressionismo alemão, tamanho era o pessimismo em preto e branco. A chegada de James Gunn resgata um sentimento de nostalgia nas páginas de quadrinhos, mas aqui, de modo mais “saudável”, e com requintes de esperança nas cores de um herói assumidamente falho e sem constrangimento, mas sobretudo recheado de bondade e empatia genuína, o que só distancia o personagem da antiga bidimensionalidade de outrora, tornando-o cada vez mais próximo da realidade. Assim, sob grandes expectativas e olhar atento de grupos de narrativas ditas “conservadoras”, é que pousa o maior super-herói de todos os tempos. E tal como na ficção, ele terá que de enfrentar diversas forças contrárias para sobrepujar as mais diversas adversidades até se provar “digno” do manto azul, vermelho e branco. Em dias estranhos, até mesmo o homem de aço, não escapará ileso das críticas político-partidárias. Visto que anteriormente, o herói nunca havia sido exposto ao mundo como hoje conhecemos, de modo que, a proximidade com a quarta parede, só torna mais e mais vivo humano esse novo Superman. Dentre lutas com monstros e explosões exageradas, a trama não se incomoda em se assumir um tanto ingênua, justamente por se tratar de uma história de herói e capa, mas chama a atenção ao dar luz a temas como a utilização de seres que se baseam em Inteligência Artificial para manchar a imagem do mocinho nas redes sociais, as chamadas fakes news — pois sim, elas adentraram no universo dos heróis e isso é ótimo. Atualizar o espectador por assuntos como a articulação de milícias digitais e afins, o que demonstra maturidade neste tipo de obra. Além disso, também vemos na equipe de Luthor, uma central de funcionários que utilizam I.A para prever os ataques do Superman, o que acende a discussão sobre o uso para fins escusos. De qualquer forma, um filme que gera debates acaloradas e certamente ataques (políticos), terá sempre um lugar nas principais prateleiras, seja para os fãs da cueca e capa, ou mesmo para os entusiastas das principais “capas”, mas as de jornais. Assim, sob a batuta de James Gun, o seu Kal-El soube se manter atual e relevante em tempos tão sombrios, e tal como o filho de Krypton que precisa da luz do sol para se mantenha vivo e seguir levantado, este Superman, deixa pra nós mais que um recado, mas um legado (título inicial do longa), de fé, resiliência e esperança ao olhar para cima em meio a escuridão de certos dias de incerteza. Em um diálogo final do filme reforça uma discussão mais que atual do momento, acerca da imagem constantemente distorcida na comunidade imigrante para determinados grupos políticos:  — Sou tão humano quanto você, Lex Luthor. E essa é a minha escolha [ser o herói que sou].  Por fim, é mais que importante ter visto ver nos telejornais do longa frases como: “conservadores e liberais concordam que Lex [Luthor] não presta”, quando sua farsa é exposta levando a sua prisão. Aí também mais um sinal de que devemos acreditar, mesmo nas discordâncias que, o mal é mal em qualquer esfera, seja social ou político-partidária. E que mesmo quando a maldade parecer ter força pra nos dividir (feito Metrópolis que literalmente, quase se racha ao meio), devemos então olhar pra cima pra saber quem somos nós em nossas próprias escolhas, independentemente de onde viemos, mas sim com a consciência de entender para onde vamos. SERVIÇO:Título:  Superman (2025)Gênero: Ação, Aventura, Ficção científicaDiretor:  James GunnRoteirista(s): Jerry Siegel, Joe Shuster, James Gunn Elenco: David Corenswet, Rachel Brosnahan, Nicholas HoultDistribuidor: WarnerDuração: 122 min [1] https://abcdoabc.com.br/agencia-de-talentos-cria-clones-digitais-de-artistas-para-proteger-suas-imagens/ [2] https://abcdoabc.com.br/superman-legacy-tera-david-corenswet-e-rachel-brosnahan-como-clark-kent-e-lois-lane/ [3] https://abcdoabc.com.br/superman-warner-bros-divulga-primeiro-teaser-oficial-de-um-dos-filmes-mais-aguardados-de-2025/ [4] https://abcdoabc.com.br/guardioes-da-galaxia-trata-da-crueldade-em-testes-com-animais/